segunda-feira, 29 de junho de 2009

Festa de S. Pedro e S. Paulo


NA FESTA DOS DOIS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO E NO ENCERRAMENTO DO ANO PAULINO
PARÓQUIA DE S. PEDRO - COVILHÃ

A Festa dos Apóstolos Pedro e Paulo do dia 29 de Junho merece algumas considerações, porque, celebramos, nesse dia, Pedro, o Padroeiro da nossa Freguesia e Paróquia e celebramos Paulo, neste mesmo dia, este ano de modo muito especial, por se tratar do dia do encerramento do Ano Paulino.

1. No ano de 1974, visitava eu a cidade de Roma e destinei um dia das minhas visitas para as Basílicas de S. Pedro e S. Paulo. Comecei por estas duas Basílicas, porque nos meus estudos de Teologia sempre me entusiasmei por Paulo e, evidentemente que, para mim, Pedro não era de somenos importância por ser aquele que o Senhor escolheu para pôr à frente da sua Igreja. Não me entusiasmou tanto o facto de chamarmos a estes dois Apóstolo as duas colunas da Igreja, porque, em realidade, Pedro e Paulo não são as únicas colunas. São-no também os outros onze Apóstolos sobre os quais, Cristo edificou a Sua Igreja.

2. Mas, uma das coisas que mais me prendeu a atenção na minha visita a estas duas Basílicas, foi a localização das mesmas. Verifiquei “in loco” que a Basílica de S. Pedro ficava dentro dos muros da cidade (intra muros) e que a de S. Paulo fora dos muros da cidade (extra muros) e este facto causava-me muitos motivos para uma reflexão e meditação. Aprofundando o significado da Imagem do “ dentro”e “fora” pensei: Pedro nasceu em Cafarnaum, na Galileia, e representava, para mim, o Apóstolo dos meios Judeus, daqueles que estavam dentro, em virtude da Revelação a Abraão, Isaac, Jacob e os Profetas…, e Paulo, embora Judeu e de formação judaica, nasceu em Tarso, na Ásia Menor (na actual Turquia), fora, portanto do mundo Judeu, e, por isso, representava, para mim, os pagãos, os que estavam fora. Esta dualidade se me afigurava assim importante, porque ela mostrou-me e continua a mostrar-me que o “dentro” e “fora” nunca significaram nem significarão separação, mas inclusão. Quer isto dizer que, nas suas origens, a Igreja não se constrói sobre um modelo monárquico. Mas ela é fruto de diálogo, de concertação, em ordem à comunhão. É preciso ler e reler o Capítulo 2 da Carta aos Gálatas para vermos como a Igreja nascente se abre à diferença. No versículo 11, Paulo não deixa de mostrar o seu desacordo com Pedro, mas mostra este desacordo, sem entrar pela crítica mordaz, que fere a comunhão. O que transparece de todo este capítulo é um ambiente de reflexão e correcção fraterna e não um mínimo sinal de separação. Na segunda Carta de Pedro (2 Pe. 3,15-16), ele confessa que encontra nas cartas de Paulo algumas passagens difíceis. Pedro dá a entender que sentia isto, como normal, porque ele era duma cultura diferente.
Todas estas dificuldades surgidas na primitiva Igreja, não são senão o sinal de que a Igreja nasceu, cresceu e continua o seu caminho na história sob o signo duma união feita de diversidades. Por isso, nem sombra de monolitismo. S. Pedro está, certamente, na cidade, dentro dos muros, mas Paulo está fora dos muros. A Igreja, desde as origens, leva dentro de si a riqueza da tradição Judaico-Cristã, mas, de imediato, o Evangelho se disse numa cultura greco-latina, como continuará a dizer-se, através dos tempos, na diversidade das culturas e até mesmo hoje, numa cultura secularizada e ateia, que tenta distanciar-se, o mais possível, dos valores evangélicos. O Evangelho está acima de todas as culturas, mas está também dentro dela, como fermento, para as poder vivificar a todas, desde o seu mais íntimo, com a graça do Espírito Santo.

3. Esta visão da Igreja e do Evangelho que ela anuncia exige de cada um de nós, conversão, qualquer que seja a cultura a que pertençamos. Estive em Moçambique durante vários anos e, quando um dia, os Moçambicanos assumiram mais responsabilidades na Igreja, através de Bispos e Sacerdotes Moçambicanos, creio que foi, para mim, homem de outra cultura, o surgimento dum mundo novo, duma Igreja local mais colorida. Lembrei-me então de ler e reler um livro que sempre prendeu a minha atenção e que se intitula em francês: “Les Eglises du Tiers Monde Prennent la Parole”. Queria isto dizer e dizer-me, mais uma vez, que as Igrejas dos chamados países de Missão entravam mais em cheio com as suas culturas para enriquecimento da igreja Universal. Uma diversidade aceite, muito naturalmente, para enriquecer a unidade.

4. Pedro e Paulo representam, assim, dois caminhos diferentes, mas complementares. Pedro, um humilde, pescador da Galileia, foi chamado por Jesus a deixar as redes e todos os apetrechos da pesca para O seguir. Companheiro de Jesus, homem cheio de simplicidade, mas duma certa rudeza de espírito, foi aprendendo na escola de Jesus, a humildade, mãe de todas as virtudes. Mas tudo isto não foi fácil para Pedro. Este homem, chamado Simão, filho de João, que professou a fé em Cristo, na cidade de Cesareia de Filipos, foi escolhido como pedra fundamental do edifício eclesial. Apesar disso, seguidamente à profissão de fé de Cesareia, Pedro quis impedir o Senhor Jesus de seguir o caminho de Jerusalém para a sua Paixão. Mas foi logo tratado pelo mesmo Senhor que o amava de “Satanás”, de adversário, habitado por uma voz que não vem de Deus, uma verdadeira pedra de tropeço no caminho de Jesus para Jerusalém para a realização do seu Projecto. Pedro, porém, conhecia o coração do Mestre e, apesar de cometer a traição da Paixão, nunca O abandonou e confessa a sua fé, sem ponta de egoísmo e de confiança em si próprio, quando exclamou na última Aparição do Senhor Ressuscitado, junto ao lago de Tiberíades: “ó Senhor, Tu sabes bem que te amo”!... Este grande amor levou-o até Roma, onde deu a vida por Cristo, provavelmente, na perseguição do Imperador Cláudio (ano 41-54 d.C.).
Pedimos a Pedro, no seu dia de festa, que nos ensine a acolher com simplicidade e alegria, a Boa Nova do Evangelho, que nos transforma por dentro.
Paulo, filho duma família notável, cidadão romano, homem ilustre e profundo conhecedor das Escrituras, ficou fascinado por Cristo a caminho de Damasco e nunca mais deixou de se dedicar a Ele e ao serviço dos irmãos. Antes do caminho de Damasco, Paulo era um fanático observador da Lei, depois de Damasco, a sua fé não consistirá jamais na observância duma Lei, mas na fé e adesão a uma Pessoa, Jesus Cristo, “Meu Senhor”, como exclama, por vezes, nas suas cartas. Apesar deste encontro vivo com Jesus, Paulo não deixa de confessar que, ele próprio, se sente tentado e que a tentação é como um “espinho na carne. Em Rom. 7, 14-24, este grande Apóstolo de Jesus Cristo diz-se habitado, como todo o homem, pela “lei do Pecado”, não sem deixar de cantar a graça de Jesus Cristo que o redimiu e nos redime a todos nós. Agora, não estamos sob a “lei da carne”, mas sob a “Lei do Espírito” que Paulo canta no Capítulo 8 da mesma carta aos Romanos. Em todas as suas cartas, transparece, com toda a nitidez, a ideia de que o mal que existe em nós, Deus o transformou em bem pelo sangue de Cristo oferecido na cruz.
Pedimos a Paulo no dia da sua festa e no encerramento do seu Ano, o ANO PAULINO que nos ajuda a cantar, com todo o fervor, como ele cantou, o triunfo da vida sobre a morte, da Luz sobre as trevas, da graça sobre o pecado. Pode ajudar-nos nesta oração o Hino do começo da carta aos Efésios (Ef. 1) ou o da Carta aos Filipenses (Fil.2, 5-11)

Pedro e Paulo conduziram sabiamente o Povo de Deus que Jesus lhes confiou, apesar das muitas dificuldades, perseguições e até hesitações, mas ambos deram testemunho de fidelidade a Jesus Cristo e à Igreja até ao martírio: Pedro sofreu o martírio, provavelmente na perseguição de Cláudio e Paulo, na perseguição de Nero. Era o “dentro” e o “fora” que se complementavam na fé do mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor. Este “dentro” e “fora” pertence à fundação da Igreja, sempre assistida pelo Espírito Santo.

Padre José Augusto Alves de Sousa S. J.

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