domingo, 20 de março de 2011

II Semana da Quaresma

       Sieger Koder


«Este é o meu Filho muito amado.
Escutai-o» (Mt 17, 5)

Jesus sobe ao monte. Leva consigo Pedro, Tiago e João. Já Abraão tinha subido para sacrificar Isaac, seu único filho. Também Moisés para receber os mandamentos do Senhor. O próprio Jesus sobe ao monte para proclamar as bem-aventuranças. E falta pouco, muito pouco, para que suba, agora, à mais alta das montanhas. Digo, à cruz.
Assim, onde terra e céu se tocam, aqueles discípulos – e nós, com eles – vêem Jesus como “o mais belo entre os filhos do homem”. E, envolvidos por tão grande luz, ouvem do céu uma voz, de tom não menos belo: “este é o meu Filho muito amado”. Profundamente tocados pela transfiguração de Jesus, reconhecem que é bom estar ali. Sim, será muito bom estar ali. Também para nós.
Mas como será e onde quereremos estar quando Jesus se revelar desfigurado e quando o seu rosto, desfeito pelo sofrimento, nos fizer desviar o olhar? Suportaremos o silêncio do céu e a violência desse grito “meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”.
Reconheceremos que Jesus é o Filho amado do Pai quando o virmos “sem aspecto atraente, desprezado e evitado” por todos? Prestar-lhe-emos atenção quando o virmos acusado e mudo? Ainda conseguiremos dizer-lhe, junto à cruz, “é bom estar aqui, onde tu estás”?
O rosto transfigurado de Jesus revela-nos, hoje, que, entre todos, é o mais belo. O seu rosto desfigurado revelar-nos-á, amanhã, que é o mais belo porque dá a sua vida por todos. A beleza está na entrega. Jesus sobe, porque aceita descer; brilha, porque aceita apagar-se.  
P. José Frazão, sj

        

domingo, 13 de março de 2011

I Semana da Quaresma

    Sieger Koder 

«Nem só de pão vive o homem, mas de toda
a palavra que sai da boca de Deus»
 (Mt 4,4)

Reparemos em Jesus. Antes de dar início à sua vida pública, retira-se para o deserto. É o lugar do silêncio e da compreensão das coisas à luz de Deus. Ali se purificam os desejos e se fortalece a vontade. Jesus prepara-se assim. Reza. Jejua. A sobriedade ajudará a ter presente o essencial da sua vida, a vontade do Pai. Mas o silêncio pode ser duro. Jesus é tentado e posto à prova.
E se usar o seu poder para benefício próprio. Porque não fazer das pedras pão, já que tem fome? E se fizesse alguma coisa de espectacular – lançar-se, por exemplo, do alto do templo, sem que nenhum mal lhe acontecesse – para que reparassem nele e o admirassem? E porque não ceder – só um bocadinho, que importância teria? – aos poderes do mundo para realizar, mais rapidamente, o Reino de Deus? Afinal, não foi para isso que veio ao mundo?
O Evangelho abre-nos uma janela para o íntimo de Jesus. O fascínio do poder, da glória e do compromisso com o mal, também o tocaram como uma possibilidade. Porém, Jesus não cede ao encanto do mais fácil. Para si, escolhe a pobreza, a humildade, o serviço. Não quererá outro caminho. É assim – só assim – que realizará o Reino de Deus entre nós. E não haverá cedências. Antes perder a vida.
 Será possível viver assim, como Jesus? Pobreza, humildade, serviço: não é opção para fracos?; não será demasiada ingenuidade, num mundo tão astuto? Sim, parece difícil. Mas o Senhor mostra-nos que é possível. E repete-nos, uma e outra vez: “quem quiser seguir-me…”


P. José Frazão, sj