quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A Luz do Natal


                                                     Bicci di Lorenzo

Pai, hoje, quero dizer-te muito obrigado, por Jesus!

Qual o maior presente em tempo de presentes? A resposta de Deus às nossas ansiedades e a Sua Luz perante as escuridões que às vezes nos assaltam. E que sara as feridas e afugenta os maus humores. Ele vai ensinar-nos a amar. Isto é o que celebramos no Natal. Se agora escutamos aquele grito com o qual, há umas semanas atrás, começávamos o Advento “Levantai a vossa cabeça, está próxima a vossa libertação”, agora já podemos contemplar o Deus Menino e procurar compreender em que consiste a tal libertação. Quebrar as cadeias e a lógica do poder, para mostrar-se, tudo vulnerável, na noite fria. E a partir daí transformar, renovar o mundo.

(in Edición Navideña de Pastoralsj – Dezembro de 2012)


terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Natal do Senhor

Imagem - schongauer_nativityhttp://www.passo-a-rezar.net - dia de Natal


No espaço duma dezena de horas, a liturgia propõe-nos a celebração de quatro missas do Natal: a Missa da Vigília, na tarde do dia 24 em que é narrada a genealogia de Jesus, a Missa da Noite, que agora celebramos e que nos conta o seu nascimento, a Missa da Aurora que anuncia a vinda de Jesus aos pobres e simples de coração, representados pelos pastores e a Missa do Dia que revela a Divindade de Jesus. Quarenta e dois anos depois do reinado do Imperador César Augusto, nasceu em Belém de Judá, Jesus Cristo, Filho de Deus que o Pai enviou ao mundo para nossa salvação. Aquele que foi, junto do Pai e do Espírito Santo, que é e que será para sempre, entra na nossa natureza humana preparado para assumir a fragilidade e a morte. Admirável amor de Deus para connosco!
Celebramos a Missa da Meia-Noite As leituras desta Missa que, popularmente, chamamos a Missa do Galo, abrem com estas palavras do profeta Isaías: “o Povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar.” Para nos fazer compreender a luz resplandecente desta noite, Isaías, um pouco antes do surgimento desta Luz, no capítulo 8, 21-23, descreve-nos uma situação dramática: debaixo dum céu de chumbo e ameaçador, um caminhante avança, desorientado e vagarosamente pelas agruras dum deserto árido e imenso. Esse caminhante, perdido no tempo e no espaço, representa, para Isaías, a imagem do povo de Israel, humilhado, sob o jugo da Assíria. Ele deambula, qual sonâmbulo, pela sua terra deserta, pois os Assírios a transformaram numa terra envolvida nas trevas e nas sombras da morte. Essa imagem do povo de Israel é, hoje, a imagem do nosso mundo, onde apesar do fascínio e do deslumbramento do luxo e da riqueza, quantos homens e mulheres avançam cabisbaixos e pesadamente sob as incertezas da vida e na obscuridade da noite.
Porém, o mesmo Profeta Isaías não nos abandona a esta situação dramática, mas logo a seguir, no Capítulo 9, 2-7 – a 1ª leitura da Missa deste noite -, vemos o cintilar duma Luz maravilhosa que tudo transforma: o céu e a terra, o rosto desse caminhante anónimo perdido no tempo e o rosto de cada um de nós. É o esplendor, a glória e o brilho que cintilam na noite. O céu carregado de obscuridade e a terra pisada pela força das armas e da violência são os pólos deste universo no qual nos encontramos e no qual, essa Luz brilhou e continua a brilhar para nós.
O fulgor dessa grande Luz ilumina em todas as direcções: ao Norte (terra da Zabulón e Nefatli, território dos gentios, ou seja, a Galileia), ao Sul, o caminho do mar e ao Oriente, do outro lado do Jordão.
O fulgor dessa grande Luz brilha, também hoje, no nosso mundo, do Oriente ao Ocidente, do Norte a Sul, porque “um Menino nasceu, para nós, um filho nos foi dado.” Tem o poder sobre o mundo e o poder de salvar o que estava perdido. Será chamado “Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz…É esta a mensagem do Natal que celebramos.

Neste Natal, celebramos:
O Deus – Menino, o Deus que aprende a falar e andar
Ficaríamos certamente menos surpreendidos, se, no seu Natal, Deus tivesse tomado o corpo de algum homem adulto, poderoso, dum senhor de prestígio…Mas não foi assim. Ele tomou a forma de Menino. Ele é o Deus que aprende a falar, apesar de ser o Verbo, Palavra do Pai. É Aquele que deve aprender a andar, mesmo que o Salmo 19, 1-7 diga que “Ele vai dum extremo ao outro do mundo”.
Neste Natal, se celebrássemos o Pai – Natal, que não é o nosso caso, estaríamos longe daquilo que é o essencial, aquilo que conta, a celebração do Deus - Menino, o Deus – Criança - figura da humanidade dependente, que é necessário alimentar, vestir, assistir em tudo…O Filho de Deus vem até nós como toda a gente. E até mesmo como o último dos últimos, pois não há lugar para Ele entre os humanos e também entra a humanidade recenseada pelo Imperador Augusto. Jesus nasce entre animais num estábulo, fora da cidade. “ Veio junto dos seus e os seus não receberam. Junto dos seus! Junto dos judeus, junto de nós, junto de mim… Mas o Menino acolhe sempre com o seu sorriso de graça. Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor!

Neste Natal, celebramos:
O Deus - Menino, o Deus que nos desconcerta
Em Deus - Menino, em Deus – Criança, em Deus – Bebé, ousamos dizer, aprendemos que Deus  perde, por nós, todo o seu poder. N’Ele, recebemos a possibilidade de nos tornarmos “como Deus”, porque Deus se torna “como homem”. Vontade de semelhança e de unidade! Ele se desarma totalmente e se submete às escolhas da nossa liberdade. Ele faz-nos existir, dando-nos todo o poder sobre o mundo, sobre nós mesmos, sobre Ele mesmo: “Maria envolveu o seu Menino em paninhos e o colocou na manjedoura”. É por isso que, nos evangelhos, Jesus multiplica estas palavras: “ se tu queres”…; “aquele que quiser”… Ninguém é forçado a entrar na vontade de Deus. Sabemos apenas que uma criança obedece. Jesus obedeceu até à morte e morte de cruz. No berço, somos convidadas a ser criança, a esta entrega, obediente à vontade de Deus, por amor. Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, Senhor!

Neste Natal, celebramos:
O Deus – Menino, o Presente Principal
O nascimento de Jesus foi um nascimento como os demais nascimentos. Não aconteceram milagres. Para não olharmos de perto o prodígio desconcertante do Verbo de Deus feito criança, nós enchemos o Natal de costumes que podem desviar a nossa atenção do essencial. Pela nossa casa dentro, pelas ruas da nossa cidade entra em cena o Pai - Natal, á árvore de Natal, o bom bacalhau, os presentes, os confeitos, o réveillon, as luzinhas…. Tudo isto é muito bom, porque nos recordar o Natal do Menino Jesus. Mas tudo isto só tem valor se nos ajudar a celebrar o essencial e se os nossos presentes não abafam ou colocam em último lugar o Presente Principal. E qual é o Presente Principal? “um Menino nasceu para nós, um filho nos foi dado” (Isaías); “nasceu-vos hoje na cidade de David um Salvador que ó Cristo Senhor” (Lucas). Ele é a vinda entre nós da “imagem de Deus - Invisível, primogénito de toda a criação”; Ele é a “ graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens” (Carta a Tito); Ele realiza as núpcias definitivas de Deus com a humanidade: “o Teu autor te desposará”, diz a Escritura. Com Cristo e em Cristo, somos, com Deus, uma só carne. Em Cristo, somos um só corpo. Com efeito, o corpo da criança do presépio carrega já a humanidade inteira (Santo Agostinho). Por isso, Lucas descreve o nascimento desta criança no contexto dum recenseamento de toda a humanidade; Cristo cidadão do mundo. Mateus faz vir ao presépio os habitantes de longe representados pelos Magos.Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus!

Louvamos o Deus Menino,
quando não considerarmos qualquer pessoa como excluída ou marginalizada: “não havia, para Eles, lugar na hospedaria”;
quando formos capazes de O adorar com um coração de pobre como os pastores;
quando formos capazes de escapar ao ruído e bulício em que se converteu Natal para voltar a encontrar, no Presépio, o cumprimento das Promessas de Deus.
Oxalá que Maria, a Mãe do silêncio que guardava todas as coisas no coração, nos comova e nos desperte nesta noite. E que José, o homem justo, nos ensine também a virtude da fé de que ele foi exímio.
Oxalá que as nossas famílias saibam acolher no seu seio a Jesus que nunca falta com a sua Paz e alegria.
Apesar de estarmos num mundo meio adormecido, sintamos em nossos corações, uma ternura diáfana e profunda que nos leve a exultar de alegria. Que esta alegria não se confunda com as estridências desta noite mas que saibamos cantar com todo o coração, o cântico dos anjos: “glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens e mulheres de boa vontade…”, esse hino que, cada vez mais, se torna menos perceptível no coração do nosso mundo, um mundo anestesiado, mas sedento de amor.
BOAS FESTAS
P. José Augusto Alves de Sousa, sj




domingo, 16 de dezembro de 2012

Advento - III Semana




Reunimo-nos neste terceiro domingo do Advento, manifestando a esperança cristã, de quem acredita que Jesus está perto. Queremos testemunhar a alegria de sermos filhos muito amados de Deus.
Ao acendermos a terceira vela na nossa coroa, reafirmámos o desejo de sermos sinais de Alegria e de Luz, deixando-nos também guiar, pela estrela que nos anuncia a vinda de Jesus



segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Advento


De novo o Natal!

O começo do Ano Litúrgico, no Advento, convida-nos a aprofundar o sentido da liturgia. Em primeira aproximação, é de considerar como a liturgia se ajusta, no seu próprio ciclo anual, à nossa experiência dos ritmos da natureza, na sucessão circular das estações, das variações atmosféricas e do próprio aspecto da paisagem.

Mas não se trata de um movimento de constante retorno, como nos faria pensar o livro de Qohélet (ou Eclesiastes), no seu prólogo. Pelo contrário, a liturgia, ao celebrar Jesus Cristo como centro da história, aponta claramente para a diferenciação das grandes épocas no percurso da aventura humana. Na liturgia, celebra-se um passado que, pela própria celebração se torna presente e, assim, produz sentido para o futuro de cada um e do colectivo. No presente, o Espírito Santo ilumina-nos na interpretação do passado e na abertura ao futuro.

Além disso, a repetição anual das cerimónias não é simples regresso ao “de sempre”. Predispõem-nos a aprofundar, cada vez mais, o Mistério ou Sacramento. São os gestos e as palavras que o tornam actual, ou seja, que o tornam eficaz para a situação e estado de alma de cada um dos participantes. Eficaz, sim, mas sempre algo envolto no desconhecido, porque, sendo Jesus Cristo o verdadeiro “autor” e “actor” da liturgia, a sua acção ultrapassa sempre, infinitamente, a nossa capacidade de compreensão. Portanto, só uma visão muito exterior e superficial nos poderia levar a dizer: “Lá estamos nós outra vez no Natal, é sempre a mesma coisa!”.


A quadra do Natal traz-nos, em primeiro lugar, o Advento, que devemos viver com idêntica expectativa à do povo hebreu a aguardar a vinda do Messias. É tempo de Esperança, que não é a espera passiva de quem aguarda o autocarro. A Esperança cristã só pode alicerçar-se na Fé verdadeira, a qual, se o é, há-de reflectir-se na prática da Caridade. Esta situa-se no coração da mensagem que o Menino nos veio ensinar por meio da pregação, mas sobretudo através da sua vida. 

Um Santo Advento / Natal.                                                                      

P. Manuel Vaz Pato, sj
(Do boletim Paroquial - Mar da Galileia)


Advento - II Semana

Preparemos o caminho para acolher Jesus, façamos do nosso coração um albergue de hospitalidade, um presépio….
 Acendemos a segunda luz, comprometendo-nos o compromisso a anunciar, a esperança que a vinda de Jesus traz à vida das pessoas que se deixam iluminar pela Sua presença.



sábado, 8 de dezembro de 2012

Solenidade da Imaculada Conceição



Da sagacidade de Mestre Gil Vicente (1465-1540),

«Alta Senhora, saberás
Que da tua santa humildade
Te deu tanta dignidade,
Que um filho conceberás
Da divina Eternidade.
Seu nome será chamado
Jesu e Filho de Deus;
E o teu ventre sagrado
Ficará horto cerrado;
E tu-Princesa dos Céus»
(Auto de Mofina Mendes)

à lírica, quase transparente, de Sá de Miranda (1485-1558):
«Virgem formosa, que achastes graça
Perdida antes por Eva, onde não chega
O fraco entendimento chegue a fé.
……………………………………….
Vós que nos destes claro a tanto escuro,
Remédio a tanta míngua
……………………………………….
Virgem toda sem mágoa, inteira e pura,
Sem sombra nem daquela culpa, herdada
Por todos nós, té o fim desde o começo
Claridade do sol nunca turbada».

Da magnífica elegia X de Camões (1524-1580),
«Tu, Virgem pura, santa, Avé Maria,
Cheia de Graça, Esposa, Filha e Madre,
Mais fermosa que o Sol ao meio dia,
Que vás buscando ao Esposo, Filho e Padre,
Qual cordeira perdida da manada,
Sem guarda de pastor, nem cão que ladre;
Vai Rainha dos Anjos mui amada,
E preciosa pedra adamantina,
De perfeições e graças esmaltada…
……………………………………………

ao recôndito Frei Agostinho da Cruz (1540-1619), que na estreita cela da sua penitência, profusamente alumiou com seu Verbo espiritual o nosso séc. XVI:

À Imaculada Conceição
Virgem formosa, que do sol vestida,
De luzentes estrelas coroada,
Do sol supremo fostes tão prezada,
Que em vós trouxe sua luz e nossa vida.

Virgem, do alto esposo recebida,
Tanto mais humil, quanto mais alçada,
Só vós pera o Criador fostes criada,
Só vós entre as humanas escolhida.

Qual sai a aurora, que trazendo o dia,
O céu, esmalta de púrpura e de ouro,
E as negras nuvens fogem de improviso:

Tal vós, estrela clara e nosso guia,
Trazendo à terra vosso alto tesouro
Convertestes o pranto de Eva em riso.


No século XX foi, talvez, um poeta brasileiro (mas a nossa pátria não é a língua portuguesa?) quem fez da reflexão sobre a Imaculada um dos eixos capitais de uma construção literária. Mostrando, ao mesmo tempo, como a linguagem teológica ganha em densidade significativa quando integra a dimensão poética. Falo de Murilo Mendes, sobretudo no período que Os quatro elementos (1935) e O sinal de Deus (1935-1936) assinalam.

P. José Tolentino
(Pastoral da Cultura)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Caminhada de Advento

5-12-2012
EVANGELHO: Mt 15,29-36

29Partindo dali, Jesus foi para junto do mar da Galileia. Subiu ao monte e sentou-se.30Vieram ter com Ele numerosas multidões, transportando coxos, cegos, aleijados,mudos e muitos outros, que lançavam a seus pés.
Ele curou-os, 31de modo que as multidões ficaram maravilhadas ao ver os mudos a falar, os aleijados escorreitos, os coxos a andar e os cegos com vista.
E davam glória ao Deus de Israel. 32Jesus, chamando os discípulos, disse-lhes: «Tenho compaixão desta gente, porque há já três dias que está comigo e não tem que comer.
 Não quero despedi-los em jejum, pois receio que desfaleçam pelo caminho.» 33Os discípulos disseram-lhe: «Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande multidão?» 34Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?»
 Responderam: «Sete, e alguns peixinhos.» 35Ordenou à multidão que se sentasse. 36Tomou os sete pães e os peixes, deu graças,partiu-os  e dava-os aos discípulos, e estes, à multidão. 

REFLEXÃO
Jesus parte sempre de nós para ajudar o próximo, baseando-se nas nossas qualidades, talentos, dons e bens. A generosidade do rapaz que cedeu os pães, quando os podia ter guardado só para si, demonstra uma total entrega a Deus, a quem confia o que tem para pôr a render nas suas mãos. Seria capaz de fazer o mesmo que o rapaz?


Fonte
http://www.apacsjb.org.pt/documentos/Livro-do-Advento-2012.pdf

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

S. Francisco Xavier


Há 491 anos, em Maio de 1521, chega a Azpeitia um homem em profunda crise existencial. O seu mundo ruiu por completo em pouco tempo, os pilares em que apoiava a sua vida derrocaram. Ao defender Pamplona lutando pelos reis católicos, este cavaleiro foi atingido por uma bala de bombarda que se atravessou entre as suas pernas, ferindo-o gravemente. Sem poder ser assistido convenientemente, esteve dois ou três dias apenas esperando que os seus companheiros de armas não pudessem fazer mais que capitular diante das forças inimigas. Pela valentia mostrada foi tratado com cortesia pelos seus rivais que lhe concederam a possibilidade de voltar a sua casa para ser mais convenientemente restabelecido. Durante cerca de quinze dias é trazido por oito companheiros que se revezam a carregar a sua maca pelos caminhos do país basco até chegar a Loiola, à casa senhorial da sua família. Chega derrotado, às portas da morte, sem saber o que será o seu futuro se sobreviver, uma vez que a sua nova condição talvez não lhe permita aspirar ao que tanto sonhava.

No fim, acabou por morrer Iñigo de Loiola, sem sequer se ter apercebido disso. Ao longo de 9 meses de recuperação física morre um homem, mas dá-se a gestação de um novo que se tornará Inácio de Loiola. Mais tarde, esta nova pessoa que reconhece o amor infinito de Deus por si, é consolidada em Manresa onde vive como eremita, na Terra Santa onde vê os lugares onde viveu o seu novo Senhor, em Barcelona, Alcalá, Salamanca, Paris e Veneza onde estudou porque percebeu que era isso o melhor instrumento para a maior glória de Deus, e em Roma onde acaba por fundar a Companhia de Jesus com os seus companheiros. Loiola sem Manresa seria um desastre. Manresa sem Loiola teria sido impossível. E sem uma nem a outra não existiria Companhia de Jesus, pelo menos como a conhecemos hoje.

Estou neste fim de Verão em Loiola, depois de já ter passado uns dias em Manresa, perto destes tempos iniciais do novo caminho de Inácio, a fazer o mês Arrupe. É um tempo de formação, de reflexão e de preparação para o sacerdócio na Companhia de Jesus, criado por Pedro Arrupe, geral deste instituto, há cerca de 3 décadas.

Para dizer a verdade, o mês Arrupe funciona como uma bala de bombarda que nos tira os apoios com que estamos habituados a caminhar. É um tempo em que percebo que os modelos imaginados para mim como sacerdote jesuíta podem não corresponder à realidade que Deus quer para mim como presbítero na Companhia de Jesus. As imagens caem, os arquétipos são purificados, os exemplos reduzidos à sua insignificância. O que Deus quer é outra coisa. Quer uma realidade, verdadeira e não idealizada, mais profunda, mais livre, mais deste Francisco que tem exactamente a minha história com altos e baixos de relação com Ele. Mas que foi chamado. Tal como é.

Loiola recebe-nos como recebeu Iñigo na sua crise: com calor humano, mas também com as montanhas belas e ásperas que a rodeiam quebrando a possibilidade de ter largos horizontes à nossa volta. Os montes obrigam-me a uma interioridade, a um olhar para dentro, a “reler” a Vida de Cristo, e as Vidas de Santos à luz da minha própria vida. A pergunta que me permanece é: “E se eu fizesse como Inácio?”; [1]. A minha vida mudaria certamente.

A única saída de Loiola é a escolhida por Inácio, porque é a única possível. Para cima, para o céu estrelado contemplado, para lá da opressão dos montes, para Deus, o meu Senhor.
E depois da experiência feita há ainda que me meter a caminho e fazer-me peregrino, e eremita na vivência do essencial, e rezar, e estudar, para que possa vir a ser um dia o Padre Francisco, filho de Inácio de Loiola que é pai desta mínima Companhia de Jesus.

[1] A "Vita Christi" e "Leyendas de los Santos" foram os livros que acompanharam Inácio na sua recuperação em Loiola uma vez que não existiam em sua casa as novelas de cavalaria por si desejadas para passar o tempo. Foi a leitura destes dois livros que provocou em Inácio perguntas como: “E se eu fizesse como S. Francisco? E se fizesse como S. Domingos?

Francisco Campos, sj

domingo, 2 de dezembro de 2012

Advento - I Semana



ADVENTO TEMPO DE ESPERA


O Advento tem a força capaz de renovar a nossa vida!
Somos convidados a mostrá-lo, a comunica-los aos outros
Para que todos possamos esperar com  esperança Aquele que vem.



Estai alerta; Vigiai. Não sabeis a hora nem o momento…

Hoje colocámos a CABANA para o presépio que iremos construir
ele é o sinal da nossa esperança, do desejo de estarmos vigilantes 
e de encontrarmos ali o menino, que chegará em breve!


« A gruta escura, lugar do nascimento. 
No Natal de 1223, Francisco de Assis quis reproduzir, na localidade de Greccio, a gruta de Belém. Deveria haver uma manjedoura. Também uma vaca e um burro. Convidou os habitantes da terra e das redondezas para que viessem, na noite de Natal, ao lugar do nascimento. As suas tochas e velas haveriam de iluminar o escuro. E os cantos haveriam de romper o frio. Nessa noite de profunda alegria, Francisco queria ver com os próprios olhos como teria sido o nascimento do menino Jesus. Numa gruta queria contemplar a vinda do Verbo de Deus na nossa carne. No lugar de refúgio para quem não tem lugar, “il poverello” queria tocar a fragilidade e a força do nascimento do Salvador, d’Aquele que faz seus os lugares humanos mais corrompidos, os mais feridos, os mais incapazes.
Hoje, tal como a Francisco, esta mesma noite restitui-nos o olhar: podemos continuar a contemplar como em todas as grutas humanas, em todos esses lugares de escuridão e de morte, a vida divina continua a brilhar. E como faz nascer o canto. No lugar das nossas mortes, acontece o momento humano mais luminoso: o nascimento de um menino. Um nascimento absolve-nos da morte e restitui-nos à vida. No nascimento de Deus, renascemos.»

P. José Frazão, sj