segunda-feira, 25 de novembro de 2013

MENSAGEM URBI ET ORBI

MENSAGEM URBI ET ORBI
DO PAPA FRANCISCO
NATAL 2013
Quarta-feira, 25 de Dezembro de 2013

«Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens do seu agrado» (Lc 2, 14).

Queridos irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro, bom dia e feliz Natal!
Faço meu o cântico dos anjos que apareceram aos pastores de Belém, na noite em que nasceu Jesus. Um cântico que une céu e terra, dirigindo ao céu o louvor e a glória e, à terra dos homens, votos de paz.
Convido todos a unirem-se a este cântico: este cântico é para todo o homem e mulher que vela na noite, que tem esperança num mundo melhor, que cuida dos outros procurando humildemente cumprir o seu dever.
Glória a Deus.
A primeira coisa que o Natal nos chama a fazer é isto: dar glória a Deus, porque Ele é bom, é fiel, é misericordioso. Neste dia, desejo a todos que possam reconhecer o verdadeiro rosto de Deus, o Pai que nos deu Jesus. Desejo a todos que possam sentir que Deus está perto, possam estar na sua presença, amá-Lo, adorá-Lo.
Possa cada um de nós dar glória a Deus sobretudo com a vida, com uma vida gasta por amor d’Ele e dos irmãos.
Paz aos homens.
A verdadeira paz – como sabemos – não é um equilíbrio entre forças contrárias; não é uma bela «fachada», por trás da qual há contrastes e divisões. A paz é um compromisso de todos os dias, mas a paz é artesanal, realiza-se a partir do dom de Deus, da graça que Ele nos deu em Jesus Cristo.
Vendo o Menino no presépio, Menino de paz, pensamos nas crianças que são as vítimas mais frágeis das guerras, mas pensamos também nos idosos, nas mulheres maltratadas, nos doentes... As guerras dilaceram e ferem tantas vidas!
Muitas dilacerou, nos últimos tempos, o conflito na Síria, fomentando ódio e vingança. Continuemos a pedir ao Senhor que poupe novos sofrimentos ao amado povo sírio, e as partes em conflito ponham fim a toda a violência e assegurem o acesso à ajuda humanitária. Vimos como é poderosa a oração! E fico contente sabendo que hoje também se unem a esta nossa súplica pela paz na Síria crentes de diversas confissões religiosas. Nunca percamos a coragem da oração! A coragem de dizer: Senhor, dai a vossa paz à Síria e ao mundo inteiro. E convido também os não crentes a desejarem a paz, com o seu anelo, aquele anelo que alarga o coração: todos unidos, ou com a oração ou com o desejo. Mas todos, pela paz.
Ó Deus Menino, dai paz à República Centro-Africana, frequentemente esquecida dos homens. Mas Vós, Senhor, não esqueceis ninguém e quereis levar a paz também àquela terra, dilacerada por uma espiral de violência e miséria, onde muitas pessoas estão sem casa, sem água nem comida, sem o mínimo para viver. Favorecei a concórdia no Sudão do Sul, onde as tensões actuais já provocaram demasiadas vítimas e ameaçam a convivência pacífica naquele jovem Estado.
Vós, ó Príncipe da Paz, convertei por todo o lado o coração dos violentos, para que deponham as armas e se empreenda o caminho do diálogo. Olhai a Nigéria, dilacerada por contínuos ataques que não poupam inocentes nem indefesos. Abençoai a Terra que escolhestes para vir ao mundo e fazei chegar a um desfecho feliz as negociações de paz entre Israelitas e Palestinianos. Curai as chagas do amado Iraque, ferido ainda frequentemente por atentados.
Vós, Senhor da vida, protegei todos aqueles que são perseguidos por causa do vosso nome. Dai esperança e conforto aos deslocados e refugiados, especialmente no Corno de África e no leste da República Democrática do Congo. Fazei que os emigrantes em busca duma vida digna encontrem acolhimento e ajuda. Que nunca mais aconteçam tragédias como aquelas a que assistimos este ano, com numerosos mortos em Lampedusa.
Ó Menino de Belém, tocai o coração de todos os que estão envolvidos no tráfico de seres humanos, para que se dêem conta da gravidade deste crime contra a humanidade. Voltai o vosso olhar para as inúmeras crianças que são raptadas, feridas e mortas nos conflitos armados e para quantas são transformadas em soldados, privadas da sua infância.
Senhor do céu e da terra, olhai para este nosso planeta, que a ganância e a ambição dos homens exploram muitas vezes indiscriminadamente. Assisti e protegei quantos são vítimas de calamidades naturais, especialmente o querido povo filipino, gravemente atingido pelo recente tufão.
Queridos irmãos e irmãs, hoje, neste mundo, nesta humanidade, nasceu o Salvador, que é Cristo Senhor. Detenhamo-nos diante do Menino de Belém. Deixemos que o nosso coração se comova: não tenhamos medo disso. Não tenhamos medo que o nosso coração se comova! Precisamos que o nosso coração se comova. Deixemo-lo abrasar-se pela ternura de Deus; precisamos das suas carícias. As carícias de Deus não fazem feridas: as carícias de Deus dão-nos paz e força. Precisamos das suas carícias. Deus é grande no amor; a Ele, o louvor e a glória pelos séculos! Deus é paz: peçamos-Lhe que nos ajude a construí-la cada dia na nossa vida, nas nossas famílias, nas nossas cidades e nações, no mundo inteiro. Deixemo-nos comover pela bondade de Deus.

Votos de um Natal feliz no termo da Mensagem Urbi et Orbi do Santo Padre
A vós, queridos irmãos e irmãs, vindos de todo o mundo e reunidos nesta Praça, e a quantos estão em ligação connosco nos diversos países através dos meios de comunicação, dirijo os meus votos de um Natal Feliz!
Neste dia, iluminado pela esperança evangélica que provém da gruta humilde de Belém, invoco os dons natalícios da alegria e da paz para todos: para as crianças e os idosos, para os jovens e as famílias, para os pobres e os marginalizados. Nascido para nós, Jesus conforte quantos suportam a prova da doença e da tribulação; sustente aqueles que se dedicam ao serviço dos irmãos mais necessitados. Feliz Natal para todos!

domingo, 24 de novembro de 2013

Solenidade de Cristo Rei e Senhor do Universo


«O Reino de Deus já está presente no meio de vós.» Não digamos está aqui ou além. O Reino de Deus está presente como uma realidade em si. O Reino de Deus depende de Deus e não desta nossa tentação de limitar, de criar fronteiras, de separar. «Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, respondeu-lhes: “ A vinda do Reino de Deus não é observável, não se pode dizer: Ei-lo aqui, ou ei-lo ali. Pois, eis, que o Reino de Deus está no meio de vós"» (Lc 17,20-21).

Este é o grande anúncio de Jesus: «O Reino de Deus está no meio de vós!» Está dentro de nós, no meio do mundo, no interior da História como semente... É este o maravilhoso tesouro a descobrir. Deus já está presente! E o que precisamos, é de nos tornar sensíveis a essa presença. O Reino de Deus é já uma realidade, é já um fermento... E se é verdade que o Reino de Deus é também uma realidade escatológica, uma realidade do futuro, uma coisa que a gente já vê, mas que ainda há-de chegar na sua plenitude; que neste momento existem sinais; a verdade é que sabendo nós embora que ele é dom futuro, o Reino de Deus é já uma realidade do hoje da minha vida. Hoje a minha vida está envolvida pelo Reino de Deus. «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como.» (Mc 4,26-27).

P. José Tolentino Mendonça
Pai nosso que estais na terra, ed. Paulinas


domingo, 17 de novembro de 2013

Domingo XXXIII do Tempo Comum


Com os olhos postos em Deus permaneçamos firmes e perseverantes, na certeza de que Deus faz de nós um sinal do Seu Amor no Mundo
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O QUE FICA DO QUE PASSA É O AMOR QUE AMA

1. Eis-nos aqui, neste caminho e neste hoje. Passamos, vemos e somos vistos. Entramos no Templo ou na Igreja da nossa terra, cheia de belas pedras, lustres, imagens, talhas douradas, toalhas de linho, música e flores. Também de gente bem vestida e perfumada.

 2. Cá fora, lá fora, as guerras continuam, como continuam as catástrofes, as crises, as riquezas, as pobrezas, os impérios e os imperadores, os turistas que tiram fotografias, filmam pedras que julgam interessantes, a canalha, os pardais, os pares de namorados, os velhinhos sentados na soleira da sua porta, os vendedores fanáticos de qualquer seita, que tão depressa vaticinam desastres, como fabricam e vendem mezinhas e remédios, sonhos e futuros fáceis, enlatados, prefabricados, à medida, prontos a vestir ou a viver, mas também continuam as falências, as dores, as doenças, as desavenças, os desentendimentos familiares.

  3. Dentro do Templo, e não fora dele, à saída, como narram os Evangelhos de Mateus e Marcos, o Jesus de Lucas 21,5-19, que temos a graça de ouvir neste Domingo XXXIII do Tempo Comum, faz ver e compreender aos seus discípulos de ontem e de hoje como tudo é passageiro e efémero, «tão cedo passa tudo quanto passa»! Passam as belas pedras e as flores, os perfumes, os impérios, as palavras, as guerras, as tragédias!

 4. Nós fazemos sempre perguntas superficiais e epidérmicas, sem sentido: «Quando, e como se poderá saber quando será o fim destas coisas, deste mundo, deste tempo!». É evidente que Jesus não nos responde directamente, mas adverte-nos: «Não vos deixeis enganar, nem perturbar!». E aproveita a embalagem para orientar o nosso olhar e o nosso coração para o essencial: o fim não deve desviar-nos e distrair-nos do Presente, da Presença, d’Aquele que não passa, e em Quem devemos sempre saber pôr o coração.

 5. É esta Presença, esta Voz que Hoje nos chama e diz que nos ama, que deve reclamar toda a nossa atenção, o nosso coração inteiro. Portanto, silêncio em nós. Pausa e bemol. Tempo novo de deixar falar o Espírito (Lucas 12,12) e Jesus (Lucas 21,15). Não há lugar para atitudes de auto-defesa («não prepareis a vossa defesa»), mas para «o testemunho».

 6. No Templo ardia o fogo perpétuo no altar do incenso, cuidado e renovado duas vezes ao dia, nove da manhã e três da tarde, pelo sacerdote de turno. Esse fogo era o sinal desta Presença amante e interpelante. Nas nossas Igrejas arde permanentemente aquela frágil lamparina, luzinha acesa junto do Sacrário, que assinala esta Presença, este Presente. Não nos deixemos distrair ou perturbar com o acidental. Velemos por esta Presença essencial, que vela por nós sempre. Afinal, é «Na tua Luz que veremos a Luz» (Salmo 36,10).
 7. Esta Luz pequenina, vou deixá-la brilhar! Está acesa no mundo para alumiar e aquecer a nossa vida, purificar o nosso coração esclerosado, empedernido, atulhado de impurezas e asperezas, e sinalizar rumos novos, tenros, ternos, verdadeiros. Cuidado convosco! Não suceda que essa luzinha, essa chamazinha que arde mansamente, se transforme num fogo ardente, incontrolável, que queima a vossa palha (Malaquias 3,19). O problema não está no fogo. Está na palha. Limpai, portanto, já o vosso coração de toda a tralha que possa fazer com que aquela luzinha, aquela chamazinha, se transforme num fogo inextinguível.

 8. Trabalhai com diligência e amor. Semeai o vosso trigo, tratai-o com carinho, limpai-o da palha que o possa afogar, regai-o, colhei-o com alegria, moei-o, amassai a farinha com as vossas mãos limpas e carinhosas, acendei o forno com cuidado, cozei o vosso pão, parti-o e comei-o à vossa mesa, com uma vela acesa! Chamai o pobre, fazei-o entrar e sentar, alumiai-o e alimentai-o. Agasalhai-o. É a lição de S. Paulo aos Tessalonicenses 3,7-12.

 9. Sim, meus irmãos, o fio de ouro, a filigrana, que atravessa a história, é o amor. É o que fica do que passa. É, portanto, o amor que julga, isto é, que põe em crise, a nossa história e a nossa vida vã e banal. O fim do mundo é o amor que ama. Quero dizer aquilo que põe fim ao meu mundo vão e banal, é o amor que ama, e, porque ama, é pessoal, é uma pessoa, é Deus que vem, amando, e me faz ver, amando-me, como eu tenho andado enganado!

 10. Cantai, pois, um cântico novo, que tenha a idade e a fidelidade do amor, ao Deus que vem para julgar, amando, e renovar, sempre amando e acariciando, a terra do nosso coração. Mudai, então, as cordas do coração, e cantai o Salmo 98.
D. António Couto

domingo, 10 de novembro de 2013

Domingo XXXII do Tempo Comum


«Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Mas aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento.
Na verdade, já nem podem morrer, pois são como os Anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos».
Lc.20, 34-40

Jesus diz-nos que, para Deus, seu Pai, todos vivem! Só o Seu amor é mais forte do que a morte. O nosso Deus não é um Deus que vê os seus filhos morrer e vai ficando, cada vez mais, rodeado de mortos! Não. O nosso Deus não é um deus de mortos, mas um Deus de vivos, porque para ele todos vivem! Jesus diz-nos que o nosso Deus é amigo da vida e que dá vida aos seus amigos: não nos dá uma vida igual à que já temos, como quem prolonga a vida presente; não se trata menos ainda de uma vida de regresso ao passado. Não. A vida que Deus nos dá é uma vida nova, porque é uma vida transformada pelo Seu amor; é uma vida já sem dor, sem lamento. Esta é a vida futura dos filhos da ressurreição, dos filhos de Deus! Quem nos alcançou esta vitória da vida sobre a morte, foi Jesus, ao morrer como nós, para nos ressuscitar com Ele.

(Fonte: abc da catequese - homilias)


sábado, 2 de novembro de 2013

Solenidade de Fiéis Defuntos


Todos nós, em união com a Igreja, pedimos pelos nossos defuntos para que vivam a plenitude da alegria no Céu. Por isso, celebramos a liturgia dos defuntos, antes de nos privarmos da sua presença física. E, no dia 2 de Novembro, chamado dia dos fiéis defuntos, a Igreja ora particularmente por todos aqueles e aquelas que nos precederam. Neste dia 2 de Novembro e, também, na véspera de todos os Santos que ontem celebramos, costumamos arranjar as campas, florir os sepulcros, limpar as casas mortuárias, onde jazem os sinais da presença daqueles e daquelas que nos deixaram. Quem não viu partir algum dos seus familiares para a casa do Pai!.. Junto dos sinais da sua presença, em casa, nos cemitérios, na nossa lembrança, diante dum álbum de fotos, façamos por eles uma oração silenciosa que brota do fundo do coração. Que esta nossa oração seja uma oração afectiva, onde sentimos sua presença, mas sobretudo a presença do Senhor Jesus Morto e Ressuscitado que nos consola e nos segreda baixinho que a morte não é o fim da vida mas, passagem para a plenitude da verdadeira vida, prolongamento da vida que temos aqui e agora, segundo um modo completamente diferente. Contemplando o Senhor Jesus, a sua Mãe Santíssima, S. José, os Santos da nossa devoção, todos eles nos podem ajudar a ultrapassar os momentos de luto que, por vezes, se prolongam tanto que nos tiram a felicidade. Os nossos que partiram, desejam que sejamos felizes e pedem-nos para não eternizarmos, nas nossas vidas o “tempo do luto”? A Igreja nos propõe sabiamente que afoguemos os nossos lutos, que enxuguemos as nossas lágrimas, que matemos as nossas saudades, neste dia de luto, o dia 2 de Novembro. Por isso, a nossa lembrança dos mortos não pode ser permanente. Não tenhamos medo se, neste dia, reavivamos aquilo que foi bom e também aquilo que foi menos bom na convivência com aqueles e aquelas que nos deixaram, mas leiamos a vida que tivemos, em conjunto, sob o olhar justificante de Deus. E Paulo nos exorta, com estas palavras de confiança:”Tudo aquilo que vivemos torna-se luz e o que é posto às claras è luz” (Ef.5,14).

O dia dos fiéis defuntos nos ajuda a reviver as nossas lembranças na serenidade da fé. Orar por aqueles e aquelas que fizeram parte da nossa fé, por todos os que se atravessaram nas nossas vidas, fossem eles crentes ou não crentes ou pertencentes a outros credos e religiosos. Pedir para que eles se associem às dificuldades da nossa vida e que nos ajudem ainda com a sua oração, junto de Deus, para que Ele nos ajuda a fazer a grande passagem desta vida para a outra vida, a vida eterna. A Igreja fala da comunicação dos santos, Tanto no dia 1 de Novembro com no dia de hoje, 2 de Novembro.

Certamente que tudo o que vimos dizendo, à luz de fé, não chega a decifrar totalmente o enigma da morte, Na liturgia dos fiéis defuntos, Deus não nos vem decifrar esse enigma ou explicá-lo e menos ainda poupar-nos á morte. Vem sim partilhar a nossa morte com tudo o que ela tem de dor e até de noite escura, angústia e solidão. Mas olhemos para Cristo Jesus na Cruz “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste”. Mas Jesus e nós com Ele, sabemos da glória de Deus que se manifestará em nós, em Jesus Cristo. Certamente que a morte daqueles que amamos, nos lembra também a nossa morte. Duro, muito duro, este encontro!.. Mas a fé pode coabitar com as trevas mais espessas e é, na noite escura, que a fé pode crescer. Foi assim com Cristo, com os Santos… com Nossa Senhora, a Mãe das Dores, no Calvário.
P. José Augusto de Sousa, sj
Imagem: William-Adolphe Bouguereau