domingo, 2 de novembro de 2014

FIÉIS DEFUNTOS


UM JARDIM TODO FLORIDO E CHEIO DE VIDA.
Um jardim florido e todo cheio de vida é o nosso mundo, embora pensemos o contrário. Não é simplesmente mundo, mas cosmos, que quer dizer um mundo ornamentado, criado por Deus. Ele disse e continua a dizer que tudo é muito bom. É, neste mundo assim que os homens dos ambientes rurais, pegam na enxada ou manobram o tractor, para revolver e cultivarem a terra, colhendo dela, saborosos frutos que se transformam em deliciosos manjares, quando passam pelas mãos de nossas mães carinhosas que se esmeram para que tudo seja belo e bom. Colhemos os frutos frescos que a terra nos dá. E toda a gente saboreia as boas frutas, o bom vinho e a leveza do bom azeite!.. Pela Primavera e verão corremos para as romarias, celebramos a festa do padroeiro, com música e bons comes e bebes. É tudo um mundo em festa, um jardim de vida que salta à vista. E, deste mundo rural, damos um salto até às cidades e, então, aí, quantos expressões de vida, nas ruas movimentadas, nos teatros, nos cinemas, nos campos de futebol…

O ESPECTÁCULO DA MORTE
E, no entanto, neste jardim da vida entra também a MORTE que desafia a VIDA e, mais tarde ou mais cedo, acaba por aparentemente vencer. Nas aldeias, toca o sino grande que ecoa por vales e serras e nos traz uma má notícia, muito contrária à dos sinos mais pequenos que tocam os aleluias no dia da festa da Páscoa. E, de boca em boca, passa a notícia. Quem morreu hoje? Ficamos a saber que morreu tal e tal, uma notícia célere que invada toda a aldeia. Nas grandes cidades, deparamo-nos com um carro da funerária e nele vai alguém que nos deixou, embora, para nós, seja um anónimo…A morte passa pelos indivíduos pelas colectividades e pelas mesmas instituições. Tudo está sob o seu domínio. Todo o humano está condenado a morrer. E quanto mais florescente é a vida, mais trágico é, por vezes, o espectáculo, quando a morte passa, como por um campo de batalha. A vida é uma luta sem tréguas contra a morte. Comer beber e cuidar-se são operações que poderíamos chamar tácticas que não afastam para longe a morte. Os pequenos e grandes cemitérios estão bem à vista nas nossas aldeias e cidades e sobre eles se levanta dominadora a morte. Mas será mesmo assim!..

A VIDA VENCE A MORTE
Também sobre os cemitérios se levanta a vida, porque o destino do homem não é nem pode ser a morte. O seu destino é a vida. Nada mais certo para o homem que a necessidade da morte, mas nada mais certo para o cristão que a existência da vida depois da morte: “o que crê em mim ainda que morra viverá”(Jo.11,25). Esta palavra de Jesus pronunciada numa ocasião solene, antes de despojar a morte de sua presença na pessoa de Lázaro, é a premissa e o argumento da ressurreição de todos os crentes.
“Não se perturbe o vosso coração. Na casa de meu Pai há muitas moradas”. A misericórdia do Senhor não termina e não acaba A sua compaixão envolve-nos desde a manhã e pela noite fora, como um manto de luz. Esta profissão de fé que se encontra no livro das Lamentações recolhe os grandes atributos com que Deus se apresenta a si mesmo a Moisés (Ex.34, 6-7).
“Pai nas tuas mãos entrego o meu Espírito”. O texto das Lamentações recolhe o lamento de um homem esgotado, cansado, próximos dos umbrais da morte. Mas este homem, assim abatido, não cai no desespero numa vida sem esperança. Nesta situação difícil não deixa de confiar em Deus (Salmo 102). Como Jó: “eu creio que o meu Redentor vive”. Confiança num Deus misericordioso e fiel que ao longo da Bíblia nos confirma que não abandona os seus Filhos.

COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS. DE QUE FAZEMOS MEMÓRIA? Certamente que fazemos memória dos nossos mortos, familiares e amigos mas a nossa oração estende-se também a todos os homens e mulheres que nos precederam. Devemos ainda fazer memória sobretudo do nosso baptismo que anda associado à morte. Este dia dos fies defuntos é uma recordação especialmente difícil, mas neste dia. em que recordamos os nossos irmãos defuntos, não esqueçamos a recordação do nosso baptismo como recomenda o Apóstolo Paulo na Carta aos Romanos 5,3-9. Aqui, Paulo lembra a vinculação entre a morte e o baptismo. Ao baixarmos às águas baptismais nos unimos à morte de Cristo e à esperança da sua Ressurreição. Não é em vão que nos funerais, há muitas coisas que recordam o nosso baptismo, o manto que cobre a urna, o Círio Pascal que se acende durante a cerimónia litúrgica, a aspersão com a água benta. É bom que estas cerimónias evidenciam aquilo em que acreditamos e que não se transformem num acto de magia. E acreditamos que a morte ao pecado como acontece no dia em que recebemos o baptismo nos une à vitória de Cristo sobre o mal. Se morremos com Cristo, acreditamos que também viveremos com Ele; pois sabemos que Cristo uma vez ressuscitado de entre os mortos já não morre. A morte já não tem sobre Ele qualquer domínio.

PALAVRAS RECONFORTANTES
Consolemo-nos uns aos outros com as palavras da Liturgia deste Dia. Saber consolar é dom do Espírito Santo que é Espírito consolador. Morreu…Não sabemos bem onde o puseram…Não sabemos bem o que é feito dele ou dela, mas confiamos no Senhor que tem palavras de vida eterna. A ti que choras, se me amas, não chores. Se pudesses ver e ouvir o que eu agora vejo, a luz que tudo invade e penetra, certamente que apagarias tuas lágrimas com esse lenço de luz…Estamos nas mãos de Deus. Seguimos-te porque te queremos mas não sabemos como encontrarmo-nos contigo. Eu marcarei um encontro com Cristo e tu estarás certamente presente e convida, da minha parte, a tua e minha Mãe, a Virgem Maria!...

P. José Augusto Alves de Sousa S.J.

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