sexta-feira, 31 de julho de 2015

domingo, 19 de julho de 2015

XVI Domingo do tempo Comum


ATRAÍDOS POR JESUS

O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium convida-nos a renovar o nosso encontro com Jesus Cristo: “ Convido cada cristão, em qualquer lugar e situação em que se encontre, a renovar agora mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, ao menos, a tomar a decisão de deixar-se encontrar por Ele e de tentar este encontro, cada dia, sem descanso”. Temos ocasião de renovar e aprofundar este encontro Jesus Cristo na meditação das leituras de cada Domingo. Hoje a liturgia apresenta-nos estas leituras: Jeremias 23, 1-6; Efésios 2, 13-18; Marcos 6,30-34.

Depois da azáfama Missionária o descanso: Jesus revela uma ternura capaz de comover com respeito aos discípulos, porque confia nelas a missão e, depois da missão, acolhe com entusiasmo as suas partilhas apostólicas entusiasmadas: as alegrias de se verem acolhidos pelas pessoas, as peripécias que encontraram pelo caminho, os sucessos manifestados no regresso, no entusiasmo com que cada um contava a sua experiência. Mas neste afã de contar tudo em pormenor, imediatamente Jesus se apercebeu que agora é preciso um descanso e Ele próprio proporciona-lhes esse descanso. Sobem para a barca ao encontro dum lugar desértico. Jesus quer escutá-los com calma e, por isso, convida-os a retirarem-se para um sítio tranquilo. Aplicando à nossa vida concreta esta atitude de Jesus, não deixemos de o contemplar neste cuidado maternal para com aqueles e aquelas, numa palavra, para com todos nós que procuramos, no quotidiano da vida, anunciá-Lo em palavras e obras. As nossas iniciativas apostólicas, os nossos projectos que não salvaguardarem espaços de silêncio, de oração, para estamos a sós com o Senhor, correm o risco de serem ditadas por critérios humanos ou então, com diz Paulo em Gal.2,2 de “estarmos a correr ou de termos corrido em vão”. 

Da dispersão à unidade, Jesus o ponto terminal, é o tema maior das três leituras mencionadas. Na primeira leitura, Deus queixa-se dos pastores de Israel que, em vez de reunirem as ovelhas, concorreram para a sua dispersão. E, então, o Senhor diz: “Eu mesmo reunirei as ovelhas de todas as terras, onde se dispersaram e as farei voltar às suas pastagens para que cresçam e se multipliquem.” E, na segunda leitura, Paulo diz: “Cristo é a nossa paz”. Foi Ele que fez de Judeus e Gregos um só povo e derrubou os muros da inimizade. No Evangelho, segundo Marcos, Jesus ao desembarcar para descansar um pouco, juntamente com seus discípulos, espera-o uma quantidade de gente que lhe deita por terra todos os planos. De todos as aldeias correm para se encontrar com Ele e já não é possível aquele encontro com os discípulos, um encontro merecedor dum repouso duma sesta feliz. Aqui, olhemos para Jesus e vejamos como reage. Jesus reage com uma reacção emotiva expressa pelo verbo grego splangknízomai que exprime um sentimento de compaixão tão intenso que só pode ser experimentado por Deus. (Fernando Armelini) Na Bíblia exprime o gesto terno do Senhor que se inclina diante do ferido para lhe ligar as feridas. É a ternura de Deus, o amor de Deus: compadeceu-se daquela gente que eram como ovelhas sem pastor diante das ovelhas sem Pastor O Senhor afectado pela fadiga dos Apóstolos, convida-os para um repouso num lugar sossegado, mas como a multidão vem ao seu encontro, muda de ideias, de projectos. E contemplemo-lo como vimos meditando, cheio de compaixão. Tudo isto nos leva a reflectir sobre a incarnação. Deus não se contentou de tomar a forma humana. Ele fez-se homem com toda vulnerabilidade emotiva e afectiva. Ele alegra-se com as ovelhas encontradas. A princípio Deus criou a diversidade (criou-os homem e mulher) à imagem da própria vida de Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. No novo Testamento, Jesus é o centro da atracção á volta do quem os homens se reúnem e para o qual tudo converge. É recapitulação como diz S. Paulo. Jesus é, por assim dizer o ponto terminal do grande itinerário bíblico (Marcel Domegue). Tudo converge para Ele: O Antigo Testamento e o Novo Testamento.

Jesus atrai-nos. Para este encontro pessoal com Jesus, como deseja para cada um de nós o Papa Francisco, conta a atracão que sentimos por Jesus. Mas esta atracção, por ventura, espontânea, é apenas um ponto de partida. É, certamente necessária, como primeiro passo, mas podíamos considerá-la um tanto quanto ingénua, porque motivada, por vezes, pelas curas e milagres de Jesus, pela sua palavra doce e suave, uma palavra nova que abre espaços de liberdade. E quem não se sente atraído pela mesma figura de Jesus que vem dos Evangelhos e que serviu de inspiração a tantas telas dos maiores pintores? Contudo, esta atracção vai exigir sempre um conhecimento interno de Jesus, como diz Santo Inácio nos Exercícios Espirituais, para que eu me sinta atraído por Ele e O siga de verdade. E segui-Lo, verdade, consiste em me deixar atrair por Ele pregado na Cruz. É o próprio Jesus quem no-lo diz no Evangelho de S. João: “quando for levantado da cruz atrairei a Mim todos os homens” Olhar para Jesus na cruz e segui-Lo, deste modo, é o cume da atracção por Ele. A esta atracção me conduzem as três leituras deste Domingo.

P. José Augusto Alves de Sousa, sj

sexta-feira, 10 de julho de 2015

XV Domingo do tempo Comum

DEUS ESCOLHE QUEM QUER, COMO QUER E DONDE QUER


As três leituras da Liturgia deste Domingo (Amós7,12-15; Efésios1,3-14; Marcos 6,7-13) referem-se ao tema da escolha, da vocação. Amós, Israel, os discípulos de Cristo, os Doze Apóstolos são postos à parte, porque escolhidos por Deus para uma missão. Deste modo, aparece uma certa tensão entre alguns, aqueles que são escolhidos e todos os demais que, embora sendo também escolhidos, não o são do mesmo modo. Deus escolhe quem quer, donde quer e como quer. A sua escolha é graça! Tudo isto está patente na vocação de Amós, onde Deus é que tem a iniciativa e o mesmo sucede na vocação dos discípulos e dos Doze Apóstolos. É o Senhor, pois, quem os escolhe quem os chama e quem os envia com uma tríplice missão: pregar a conversão, expulsar os demónios e curar os enfermos.

Enviados dois a dois: Depois de os chamar, Jesus envia-os dois a dois como requisito, para que possam ser credíveis, como anunciadores e testemunhas da verdade. A missão sai, pois de Cristo, através duma comunidade e volta à comunidade para expressão comunitária da alegria do Evangelho que progride em e através duma comunidade. Podemos deleitar-nos, aqui, com a leitura do Evangelho de S. Lucas, onde Jesus e os discípulos exprimem uma grande alegria, porque depois da Missão, eles vêem Satanás cair do Céu. Jesus chama-os à parte para celebrarem, juntos, essa alegria do Evangelho (Lucas 10, 17-20). E Paulo, para começar a sua missão em Corinto, seguindo o conselho de Cristo, não a quis iniciar sozinho sem que viesse de Éfeso Silas e Timóteo destinados a trabalhar com ele, na primeira evangelização dos Coríntios. Estes alguns são chamados em vista da realização do projecto de Deus: “ atrair todo o Universo para Cristo, isto é, reunir todos os homens sob um só chefe, sob uma só cabeça, Jesus Cristo”.

Relação, comunicação: As consignas de Jesus dadas aos enviados vão no sentido de que eles não deixem de tomar contacto com as pessoas. Deste contacto nascerá a relação, a partilha, a convivência, tudo isto, o sinal da unidade do Pai do Filho e do Espírito Santo. São convidados a viverem esta realidade depositada por Deus nos corações, mesmo antes de a compreenderam pelo anúncio do Evangelho: “colhereis onde não semeaste”!.. Trata-se, no anúncio do Evangelho de despertar algo que já se encontra nos destinatários significado pelas famosas ”Sementes do Verbo” de que fala o Vaticano II. Trata-se de conduzir à sua fecundidade tudo o que já está naqueles que evangelizamos. Relação e comunicação são, por isso, a pedra fundamental do primeiro anúncio do Evangelho.

Um estilo de vida: Jesus não escolhe os seus discípulos de qualquer maneira. Para colaborar no seu projecto de Reino de Deus e prolongar a sua missão, é necessário cuidar dum estilo de vida. Se assim não fosse, os discípulos poderiam fazer muitas coisas e até coisas muito boas, mas não introduziriam no mundo o Espírito de Cristo, o fim do envio e da missão. Mas em que é que se caracteriza este estilo de vida? Marcos diz que Jesus os envia. É esta a primeira condição: ser enviado por Jesus. Notemos, porém que, neste envio, não lhes dá poder sobre as pessoas que irão encontrar pelo caminho, mas envia-os como quem tem autoridade sobre os espíritos impuros, isto é, sobre aquelas forças negativas que impedem os homens de serem pessoas, as forças que escravizam e desumanizam, os homens. Expulsar os demónios significa restituir ao homem a sua integridade, a sua dignidade, a sua verdade. Não utilizarão o seu poder para governar, mas para curar, aliviar os sofrimentos, mitigá-los. Levarão bastão e sandálias, porque Jesus os imagina como caminhantes e nunca instalados. Sempre a caminho!.. O bastão é para os ajudar a caminhar e para os tornar presentes, onda haja quem necessita ajuda. E nem sequer levarão pão, alforge ou dinheiro para não estarem obcecados com a própria segurança. Levarão consigo algo muito mais importante: o Espírito de Jesus, a sua Palavra e a sua Autoridade para que possam humanizar a vida das gentes.

De mãos vazias: os enviados vão despojados de tudo e, portanto, sem poder. São totalmente dependentes das pessoas que encontram, mesmo para a sua subsistência. Não se trata de testemunharem uma espécie de heroísmo apostólico, mas duma necessidade para que os destinatários do Evangelho não sejam influenciados nem pelo prestígio, nem pela riqueza dos enviados. Paulo irá ainda mais longe, ao pedir a pobreza da linguagem “ a fim de que a fé não repouse na sabedoria dos homens, mas sobre o poder de Deus (1.Cor.2,1-5). Não podendo apoiar-se sobre eles próprios, os Apóstolos não poderão apoiar-se senão em Deus. Mas então brilhará na fraqueza dos mensageiros o poder de Deus. Meditávamos no Domingo passado o que Jesus dizia a Paulo: “basta-te a minha graça porque é na fraqueza que se manifesta todo o meu poder. De boa vontade, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que habite em mim o poder de Cristo… quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor.12, 7-10).

P. José Augusto Alves de Sousa, sj


domingo, 5 de julho de 2015

XIV Domingo do tempo Comum

 JESUS EM NAZARÉ. COMO O ACOLHERAM OS SEUS CONTERRÂNEOS? 
COMO O ACOLHEMOS NÓS?

Duccio

No Domingo passado, acompanhamos Jesus, de volta a Cafarnaum, de regresso da terra estrangeira, a terra dos gadarenos (Mt.28-34). Pelo caminho, vêm ter com ele, Jairo e a mulher que sofre de fluxo de sangue. Jairo pede a cura para sua filha e a mulher fica-se por tocar as vestes de Jesus, pois pensa que, desse modo, ficará curada. Ao princípio, estes encontros, tanto num como noutro caso, resultam numa cura. Mas, depois, tais encontros, ao serem seguidos duma palavra de comunhão entre Jesus e os intervenientes, operam uma cura ainda mais profunda, a salvação que nos traz a fé na pessoa de Jesus. Foi necessária uma palavra de comunhão e de aliança, para que a fé se tornasse uma realidade, um encontro!..

Hoje, contemplamos Jesus em Nazaré. Antes desta ida de Jesus a Nazaré, os seus familiares, já um dia, o tentam convencer a voltar à família para retomar o seu trabalho de carpinteiro. Nessa altura, Jesus dirigindo o olhar para aqueles que estavam à sua volta para o ouvir, exclama: “Aí estão minha mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt.3, 31-35). Agora, como lemos no Evangelho de hoje, por sua iniciativa, Jesus volta a Nazaré para apresentar à antiga família (a família de sangue), a sua nova família composta por todos aqueles e aquelas que responderam e respondem ao seu chamamento; são os discípulos, que deixaram as redes, que deixaram o passado e se puseram a segui-lo, e são todos os que ontem e hoje, se predispõem a fazer o mesmo. E nós, com eles!.. Com eles, Jesus vai abrir a “Casa de Israel” a todos! E este é o escândalo dos seus conterrâneos e também o nosso, quando nos refugiamos numa cultura ou numa comunidade e não damos espaço a outras realidades.  
Jesus está, pois, na sua terra. Pensávamos que seria bem recebido e que as gentes da Nazaré, onde vivera, se orgulhassem por Ele ter crescido no seu seio. Mas no encontro com a sua antiga família, o evangelista Marcos no-lo apresenta como um Sábio desconhecido para os seus conterrâneos, um Profeta desprezado, um Médico incapaz de curar.

Compreendemos agora, mais facilmente, que os estrangeiros, junto dos quais Jesus libertou um homem acorrentado por uma legião de demónios, o não tenham acolhido e, com medo, lhe peçam para os deixar e abandonar a sua terra. Preferem viver na paz em que sempre viveram e que ninguém os incomode.
Mas em Nazaré, na sua terra, Jesus é rejeitado pelo seu povo! Ele é  a imagem dum desconhecido: quem é este? Não é ele o carpinteiro? Esta narração não deixa de ser surpreendente. Jesus é rejeitado, precisamente em seu próprio povo, entre aqueles que criam conhecê-lo melhor do que ninguém. Ele chega a Nazaré acompanhado de seus discípulos e ninguém sai ao seu encontro como sucede noutros lugares E pior ainda. Nem sequer lhe apresentam os enfermos da aldeia para que os cure. A sua presença somente desperta o assombro e nada mais!..
Não pôde fazer ali nenhum milagre. Estamos habituados a ver a Deus que pode tudo, que gere tudo e ao qual nada escapa. Assim, podemos dizer que o escândalo da Encarnação, o facto de Deus se fazer homem se agrava com a leitura do texto da liturgia de hoje. Pois nele, se diz: não pôde fazer ali nenhum milagre. Gostaríamos de dizer: Jesus quereria dar a vida, saúde, integridade… Mas Ele não é totalmente senhor da sua acção dos seus dons. O dom é assunto de aliança. É necessário haver dois: um eu e um tu para que haja lugar para aliança. Aquele que dá e aquele que aceita na fé, que recebe. Logo, ele de facto não pode tudo; não pode contra a nossa vontade. O texto diz ainda: “ele se admirou-se com a sua falta de fé” Ele constata o facto e aprende... Em Mateus 14, Ele aprende a notícia da morte de João Baptista. Quer isto dizer. Deus pode tudo, se a liberdade do homem lhe abre um caminho e nada pode sem essa abertura. É o mistério da nossa liberdade que Deus respeita, porque nos fez livres e não escravos.

Aceitamo-lo assim nas nossas comunidades, na nossa Igreja? Marcos não nos narra a ida de Jesus a Nazaré para nossa curiosidade, mas para advertir as comunidades cristãs que Jesus pode ser rejeitado precisamente por aqueles que crêem conhece-lo melhor do que os outros. Todos aqueles que se fecham nas suas ideias preconcebidas, correm o perigo de não se abrir à novidade da sua mensagem e ao mistério da sua pessoa.
A Casa de Israel fechou-se, mas a Igreja, novo Povo de Deus, nova morada de Deus com seu Povo, tem que abrir as suas portas para nela entrarem todos os homens e mulheres, sem acepção de pessoas.
P. José Augusto Alves de Sousa, sj